Os desafios do agronegócio brasileiro para 2019

*Por Amélio Dall’Agnol e Arnold Barbosa de Oliveira, pesquisadores da Embrapa Soja

A Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), em recente manifestação (5/3/19) – valendo-se de estudos da Conab e de outras agências de avaliação – informou que a safra de grãos será maior em 2019, o clima será mais favorável, o PIB do agro crescerá 2% e o Valor Bruto da Produção (VBP) será 4,3% maior. São estimativas positivas depois de um 2018 prejudicado pelo clima, pela greve dos caminhoneiros e o consequente tabelamento do frete, o que promoveu alta no preço dos alimentos e dos insumos agrícolas, afetando o custo da produção e a rentabilidade do produtor.

Mas, apesar das adversidades, 2018 foi positivo para o agro brasileiro. Segundo o DERAL (Departamento de Economia Rural do PR), o agronegócio brasileiro exportou US$ 102 bilhões e importou apenas US$ 14 bilhões , gerando um saldo de US$ 88 bi, o maior saldo da história do agronegócio brasileiro. Somente o complexo soja respondeu por US$ 41 bi desse saldo, dos quais, a maior parte resultou da exportação de 83,6 milhões de toneladas de grãos – principalmente para a China, que nos beneficiou com prêmios pagos nos portos por conta da sua guerra comercial com os EUA.

A soja é o principal produto exportado pelo Brasil, tanto em volume, quanto em termos financeiros. Embora a maioria dos estados brasileiros produzam soja, mais de 50% da produção concentra-se em três estados: MT, PR e RS, pela ordem. No ciclo atual, no entanto, dada a estiagem que afetou a produção do PR, a safra gaúcha deverá superar a paranaense (19,0 Mt ante 16,5 Mt), após 15 anos na vice-liderança.

Apesar de a produção de soja da temporada 2018/19 ter sido prejudicada pelas condições climáticas desfavoráveis na maioria dos estados produtores – com exceção do RS – o clima favorável neste início de 2019 promete uma colheita de algodão e milho safrinha bem maior do que a de 2018, cuja produção foi prejudicada pelo mesmo fenômeno climático que agora afetou a soja, o feijão e o arroz. Apesar da queda na produção de soja (-5%), feijão (-23%) e arroz (-12%), a Conab estima que a produção total de grãos em 2019 será maior do que foi em 2018 (233 Mt em 2019, ante 228 em 2018).

Embora a expectativa para a safra de grãos e fibras colhidos em 2019 seja de aumento do volume, também é de incertezas quanto à comercialização, visto que as boas condições que promoveram a safra anterior (prêmios pelo litígio comercial China/EUA, quebra da safra argentina em aproximadamente 20 Mt e alta cotação do dólar), dificilmente se repetirão na temporada atual.

Sem as condições favoráveis de mercado acontecidas no exercício de 2018, dificilmente poderemos adiantar bons preços para a soja e outros grãos, comercializados em 2019, apesar de haver uma expectativa de redução da área cultivada com soja nos EUA, o que poderia ajudar na elevação do seu preço de mercado.

Ademais, vale lembrar que a rentabilidade do negócio agrícola não depende apenas da boa produtividade e dos bons preços de mercado. Depende também da boa gestão da propriedade, da redução dos custos de produção e da tolerância a adversidades climáticas. Uma das formas mais óbvias de redução dos custos é a utilização racional dos agrotóxicos no controle das pragas, doenças e plantas daninhas e a prática da inoculação, em lugar de fertilizantes nitrogenados. Por outro lado, as adversidades climáticas são muito menos danosas quando se faz o manejo eficiente do solo, utilizando-se corretamente Sistema Plantio Direto, a Integração Lavoura-Pecuária, dentre outras boas práticas.

 

Fonte: Canal Rural

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