Matopiba: Cargill é acusada de ignorar investimentos de agricultores no meio ambiente

Produtores rurais do Oeste da Bahia divulgaram uma carta aberta em que afirmam que a empresa Cargill “ignora” investimentos que o setor produtivo tem realizado nos últimos anos na região em preservação do meio ambiente.

A carta foi uma reação ao anúncio da multinacional, no dia 13 de junho, de um investimento de US$ 30 milhões para encontrar soluções para proteger florestas e vegetação nativa na cadeia produtiva de soja no Brasil.

Com uma unidade em Barreiras, a Cargill está entre as empresas que atuam no Oeste da Bahia no beneficiamento da soja (produção de óleo e farelo), uma das principais commodities produzidas na região – as outras de destaque são o algodão e o milho.

A diretora de Sustentabilidade da Cargill, Ruth Kimmelshue, disse em entrevista ao jornal “O Estado de S.Paulo” que o foco, no Brasil, é o Cerrado e o Matopiba, acrônimo formado com as iniciais dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.

Segundo ela, o compromisso do setor agora é eliminar o desmatamento na cadeia produtiva da soja até 2030. “O progresso que fizemos é significativo. Mas temos mais trabalho significativo para fazer”, disse.

“Precisamos urgentemente de ideias ousadas que ofereçam aos agricultores uma maneira de prosperar enquanto protegemos o planeta. Essas são as duas forças concorrentes e complementares que queremos abordar”, declarou a executiva.

Junto com o financiamento, a empresa informou, segundo o Estadão, que está implementando um plano de ação para aumentar a transparência e avançar na adoção da política contra o desmatamento na cadeia de soja.

Entre as medidas, está uma avaliação de risco abrangente de fornecedores diretos e indiretos. De acordo com a empresa, o foco é trabalhar para a transformação de longo prazo “para que florestas e agricultores possam coexistir”.

Reação

Divulgada na semana passada, dia 19, no site da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), a carta aberta afirma que o anúncio da Cargil “ignora o fato de que as entidades do Oeste da Bahia investiram mais de R$ 15 milhões nos últimos anos em projetos que buscam a proteção do meio ambiente, notadamente, do bioma Cerrado”.

“Diante dos muitos projetos e com resultados diretos na preservação ambiental, entendemos que a Cargill deveria tomar conhecimento dos trabalhos já existentes sobre o tema ambiental executados no Oeste da Bahia”, afirma a carta.

Para os produtores, a Cargill “poderia disponibilizar os recursos prometidos para se somar aos esforços feitos pelos produtores baianos na recuperação de nascentes e preservação dos rios das Áreas de Preservação Permanentes (APPs) e Reservas Legais”.

Dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) apontam que os agricultores do Cerrado baiano preservaram 35% das suas propriedades rurais a um custo de R$ 11 bilhões ao fazerem o que regulamenta o Código Florestal e ao incorporarem os critérios de sustentabilidade na cadeia produtiva.

Segundo os produtores, “o volume da produção desta região vem aumentando nos últimos anos em razão da conquista de maiores índices de produtividade e não pelo aumento de área.”

“Tais resultados alcançados se devem à competência do produtor e o investimento em tecnologias aplicadas ao plantio”, diz um trecho da carta, na qual se lê ainda que “Aiba, Abapa [de produtores de algodão] e Sindicatos Rurais apoiam o ingresso de empresas ou entidades do terceiro setor que queiram participar de seus projetos ambientais, razão pela qual reforçamos o convite feito à Cargill para somar seus esforços e investimentos aos projetos executados”.

Resposta da Cargill

Ao comentar sobre a carta aberta, a Cargill declarou que “o desmatamento na cadeia de soja no Brasil é um tema complexo, que necessita de uma solução que proteja o planeta e, ao mesmo tempo, seja economicamente viável para os produtores rurais”.

Diz ainda que a “criação deste fundo [de U$S 30 milhões] não muda o posicionamento da empresa em não apoiar a criação de uma ‘Moratória do Cerrado’ e de continuar participando e contribuindo para a discussão e transformação setorial envolvendo diversos atores por meio do Grupo de Trabalho do Cerrado (GTC)”.

Enquanto isso, na região de Balsas (MA) produtores estão distribuindo adesivos para colocar em carros, em protesto contra a Cargill e a “Moratória da soja Matopiba. Aqui não!”.

 

Um produtor que prefere não ser identificado declarou que “na minha opinião a Cargill, empresa americana, não está realmente preocupada com a prosperidade das pessoas que habitam o Cerrado brasileiro. Está, sim, preocupada é com o que o Cerrado pode se tornar engolindo os cinturões de produção americanos. Com nosso potencial e logística, torna-se incontestável o futuro desta região.”

A empresa, por sua vez, afirma que “não apoiamos a extensão da moratória para o Cerrado, pois entendemos que este não é o instrumento adequado para solucionar a questão. A moratória não endereça os desafios sociais, econômicos e, em última análise, ambientais, e é muito provável que cause consequências – mesmo que não intencionais – para os agricultores e comunidades que dependem da agricultura para sua subsistência”.

“Pedir que as empresas excluam produtores das suas cadeias não resolve o problema — simplesmente transfere para outras empresas ou atividades”, afirma o comunicado da Cargill, que informou que está “chamando os líderes da indústria, clientes, ONGs, startups e outros para se juntarem a empresa na busca de soluções de longo prazo”.

Ao mesmo tempo, a empresa frisa que “continua executando medidas de controle para criar uma cadeia produtiva de soja mais sustentável e sua política reafirma o compromisso de proteger as florestas e vegetações nativas, enquanto permite que os produtores prosperem”.

 

Fonte: Blog do Mário Bittencourt (Canal Rural)

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