Você já ouviu falar em seca fisiológica?

*Por Josi Prado

Não é apenas a falta de água pela chuva ou irrigação que podem levar a planta a apresentar sintomas de murcha e paralisação da fotossíntese.

Isso pode acontecer mesmo havendo água no solo! Como?

O transporte de água para dentro da célula vegetal acontece por duas forças: a primeira é a pressão negativa gerada pela transpiração, ou seja, a água da folha evapora e cria um vácuo que puxa a água do solo pelos vasos condutores da planta como um canudinho. É também conhecida como transporte passivo.

Mas a planta não poderia ser dependente só desse fator. E quando não houvesse transpiração? Quando não há transpiração suficiente, devido ao fechamento dos estômatos nas altas temperaturas do dia, ou aumento da umidade relativa do ar, a planta gasta energia para trazer a água por osmose, ou seja, aproveitar a tendência natural que a água tem de passar de um meio menos concentrado em elementos químicos (solução do solo) para um mais concentrado (interior das células da raiz). A osmose é a segunda força e a mais importante, porque é a que mantém a planta recebendo água quando o potencial hídrico está mais baixo, o que ocorre na maior parte do tempo em nosso ambiente tropical.

E se a osmose é a principal força, baseada no movimento da água, o que impediria esse movimento? Justamente a concentração de solutos (ânions e cátions).

Também conhecida como transporte ativo, ou seja, que envolve gasto de energia, a osmose é favorecida ou desfavorecida por esse equilíbrio entre solo x células das raízes. Quanto mais equilibrado, menos a planta tem que gastar energia, quanto menos equilibrado, mais tem que gastar.

Se a água da solução do solo estiver mais concentrada do que dentro da folha, não só vai diminuir o transporte da água, como a planta terá que gastar mais energia para trazer os nutrientes para dentro. Com menos água e gastando mais energia, os sintomas de seca vão aparecer mais cedo, mesmo havendo água no solo. Essa é a seca fisiológica.

Os sintomas aparecerão ainda mais rapidamente se o solo for compactado, fazendo com que a planta não consiga aprofundar as raízes em busca de umidade.

E quais situações fazem a água na solução do solo ficar mais concentrada?

Quando aplicamos uma quantidade excessiva de fertilizantes (normalmente isso acontece quando a recomendação não é feita com análise de solo), ou quando, mesmo se a quantidade estiver adequada, concentramos o fertilizante muito próximo a semente ou à raiz. Esse efeito piora de acordo com o tipo de fertilizante, sendo os mais prejudiciais os salinos, como cloreto de potássio, até os mais básicos e menos prejudiciais, como o calcário. Por isso que também é importante, falando em cloreto de potássio, não colocar mais do que 60 Kg/ha de K2O na adubação de plantio, mesmo que na distância adequada, pois como o potássio se move em parte por fluxo de massa, a tendência é que a alta concentração vai conseguir afetar a raiz mesmo que não esteja tão próxima.

Para evitar isso, lembre-se sempre de fazer uma recomendação de fertilizantes de acordo com a análise de solo, que respeita o tipo de solo, sua capacidade de retenção de íons, e a demanda e sensibilidade da cultura.

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*Josi Prado é engenheira agrônoma formada pela UNESP, com pós-graduação em Gestão do Agronegócio pela FGV e cursando especialização em Manejo do Solo pela Esalq/USP. Atua há 10 anos no mercado com experiência em grande fazenda produtora de fibras e grãos, como coordenadora e gerente de tecnologia, e multinacional de fertilizantes, como supervisora de marketing. Atualmente trabalha com cursos online, treinamentos e palestras na área de manejo da fertilidade do solo e agricultura de precisão. Criadora e produtora do canal Agro Insight no YouTube, também é responsável pelo blog www.ains.com.br.

 

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