Cotonicultura baiana é destaque no 6º AgroBrazil

Quem passa pelo Oeste da Bahia no período da colheita do algodão, entre os meses de junho e setembro, tem a impressão de ver um mar branco sumir no horizonte. A região, conhecida nacionalmente e internacionalmente pela força do agronegócio, contribui majoritariamente para colocar a Bahia em segundo lugar no ranking nacional dos produtores da pluma, concentrando 93% de toda a produção do estado.

Por conta da importância para o estado e para o País, a cotonicultura baiana foi incluída no roteiro de visitas do 6º AgroBrazil, programa de intercâmbio desenvolvido pela Superintendência de Relações Internacionais da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), que tem como objetivo proporcionar um contato direto entre produtores rurais brasileiros e representantes de delegações estrangeiras no Brasil.

As visitas, realizadas entre os dias 5 e 8 de agosto, contemplaram as principais culturas da região, sendo os dias 6 e 7 destinados à cotonicultura. Representantes de 10 países (Alemanha, Argélia, Austrália, Canadá, Cuba, França, Indonésia, Malásia, Tailândia e Vietnã) conheceram desde a colheita até a análise da fibra.

“Nós da CNA estamos com uma missão muito importante com as embaixadas estrangeiras que estão no Brasil, que são clientes e potenciais clientes do nosso País. E nós estamos trazendo algumas delas para o Oeste da Bahia, para que possam ver a pujança da agricultura nessa região”, destaca Gedeão Pereira, diretor de Relações Internacionais da CNA. “Esta região produz uma das melhores fibras em função da condição climática que se tem aqui, qualidade do solo e também se integra muito bem à sojicultura, é um melhorador da cultura da soja, assim como a soja também tem a sua contribuição para a lavoura de algodão”, complementa.

A comitiva visitou a Fazenda Orquídea, do Grupo Schmidt Agrícola, localizada na comunidade Placas, em Barreiras, e viu de perto a tecnologia empregada na colheita do algodão. A fazenda, composta por 20 mil hectares de plantio, destina 25% dessa área à cotonicultura (5 mil hectares). “A tecnologia está dentro de todos os nossos processos: campo, escritório e gestão como um todo, e nós acreditamos que realmente conseguimos fazer agricultura de qualidade, mas para isso nós temos que estar inovando a todo o momento e, por conta disso, nós temos que ter pessoas que tenham essa mesma visão que nós temos”, ressalta Moisés Schmidt, que, além de sócio-proprietário do Grupo Schmidt Agrícola, também é presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Barreiras (SPRB).

Os números apresentados por Moisés Schmidt são surpreendentes: de acordo com o produtor, a Fazenda Orquídea colhe, em média, 355 arrobas por hectare, superando a média estadual, de 300 arrobas/ha.

Os países asiáticos estão entre os principais importadores do algodão brasileiro e o Vietnã figura entre os primeiros colocados. “A indústria têxtil do Vietnã se desenvolve muito rapidamente e estamos produzindo muitos vestidos para exportação. Cada ano importamos 22 mil toneladas do Brasil e isso vai contribuir para o contínuo desenvolvimento da nossa indústria têxtil”, diz o embaixador do Vietnã no Brasil, Do Ba Khoa.

O representante vietnamita também enalteceu o potencial do agronegócio brasileiro, dando ênfase ao Oeste da Bahia. “Acho que o Oeste da Bahia tem muitas vantagens em termos do agronegócio, tem grande extensão territorial, não tem calamidades naturais, tem tecnologias, recursos humanos capacitados, cursos de formação técnica etc. Isso é a vantagem comparativa do Brasil em geral e da Bahia em particular, porque no Vietnã não temos espaço”, disse o embaixador.

O Grupo Schmidt Agrícola integra a Algodoeira UBahia, uma cooperativa composta por mais 4 grupos que processa o algodão – destinado, em sua maior parte, para a exportação – na algodoeira, localizada em Luís Eduardo Magalhães. A UBahia existe há 3 anos, fazendo o trabalho de descaroçamento, prensa e empacotamento do algodão em fardos.

“Por se tratar de uma associação de vários produtores, temos condições de armazenagem e de fornecer algodão o ano todo para embarques parciais, que é uma demanda do mercado internacional”, diz o argentino Miguel Goldenberg, sócio-proprietário da Algodoeira UBahia.

Phitchanan Panadamrong, primeira secretária da Embaixada da Tailândia, diz que o algodão brasileiro, em especial o cultivado no Oeste da Bahia, é um dos melhores do mundo. “A balança comercial entre a Bahia e a Tailândia é em torno de US$ 20 milhões, US$ 10 milhões destinados somente à compra de algodão. A qualidade da fibra é uma das melhores do mundo e estou tendo a oportunidade de visitar as empresas, entendi mais sobre os processos e como a qualidade dos produtos é assegurada”, destaca Phitchanan na visita à Algodoeira UBahia.

Para finalizar a visita, a comitiva das delegações estrangeiras visitou, em Luís Eduardo Magalhães, o Centro de Análise de Fibras de Algodão, o maior do gênero na América Latina, gerido pela Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa), entidade que representa, defende e promove o algodão produzido no estado. O único laboratório do tipo no Matopiba (acrônimo que faz referência à última fronteira agrícola do País, composta pela maior parte do Maranhão, todo o território do Tocantins, Sudoeste do Piauí e Oeste da Bahia), desenvolve um trabalho que garante a qualidade do algodão dessa região, gerando confiança em quem vende e em quem adquire a fibra que passa por esse processo.

De acordo com Lidervan Morais, diretor-executivo da Abapa, o laboratório tem capacidade de analisar 30 mil amostras por dia. Cada amostra pesa, em média, 150 gramas. “No ano passado nós analisamos 1.800.000 (um milhão e oitocentas mil) amostras e a projeção para esta safra é analisar 3 milhões de amostras. São os próprios produtores, através da Abapa, que se organizam para que se tenha um crescimento sustentável e um crescimento que dê longevidade aos investimentos que são feitos”, ressalta.

Sérgio Brentano, gerente do laboratório, diz que os representantes das delegações estrangeiras ficaram impressionados com o nível tecnológico do laboratório, que assegura a qualidade da fibra da região. “A gente tentou passar para eles o que a gente faz, como o produtor produz a fibra do algodão, todo o processo envolvido no beneficiamento, como que é feita a classificação, para eles conseguirem visualizar como a parte técnica está avançada e como que está a questão da confiabilidade e a seriedade do trabalho do algodão e do agronegócio como um todo. Ficaram muito impressionados com a tecnificação das atividades e também em relação à transparência e à confiabilidade que foi transferida para eles, desde a lavoura até o processo de classificação”.

Safra 2018/19

Segundo maior produtor de algodão do País, a Bahia é responsável por 25% da produção nacional, ficando atrás apenas do Mato Grosso, principal estado cotonicultor do Brasil.

Com mais de 330 mil hectares plantados nesta safra (2018/19), aumento de 25,5% da área em relação à safra anterior, a projeção é de que a produção cresça 15%, alcançando 1,5 milhão de toneladas (caroço e pluma) com uma produtividade média de 300 arrobas por hectare.

O crescimento é vertiginoso: nas últimas duas décadas, o Oeste da Bahia – principal região produtora do estado – passou de 220 arrobas para 300 arrobas por hectare, em média.

Perspectiva de crescimento da cotonicultura baiana

De acordo com dados apresentados no estudo “Projeções do Agronegócio, Brasil 2018/19 a 2028/29”, desenvolvido pela Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e pela Secretaria de Inteligência e Relações Estratégicas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a produção da cotonicultura baiana vai aumentar 20,5% nos próximos 10 anos. No mesmo período, as exportações da commodity devem crescer 43,4%.


Redação Matopiba Agro – Túlio França

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