Fechamento de portos na China aumenta risco de falta de insumos para o agronegócio

China vive surto de Covid-19 e isso tem causado lockdowns; portos tiveram operações suspensas e agronegócio do Brasil teme que ruptura logística gere problemas na cadeia de insumos

A China vive um surto de Covid-19 e isso tem causado lockdowns e várias outras ações, como endurecimento de regras no transporte de produtos. No porto de Quingdao, as cargas de algodão agora precisam ser desinfectadas. De acordo com a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), a medida tem gerado atrasos e custos adicionais. Já o  porto de Ningbo chegou a ter atividades parcialmente suspensas. Ele é o terceiro maior porto de contêineres do mundo.

O agronegócio tem na China o principal parceiro comercial e já sente efeitos na dinâmica do mercado de insumos. Segundo levantamento do Itaú BBA, 38% das importações de defensivos vem do país asiático. Entre os herbicidas, a China é responsável por quase 100% da origem do glifosato, um dos químicos mais usados na agricultura brasileira.

O presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg), Julio Garcia, afirma que a dificuldade logística está gerando atraso na entrega de produtos para empresas de defensivos agrícolas no Brasil. “Para nós, é percebido bastante atraso e falta de materiais. Algumas indústrias não cumpriram seus contratos e não estão entregando seus produtos, muitos porque não conseguem fabricar e não embarcam. Outras fábricas também pararam por ordem do governo. O momento é de incerteza. Várias empresas tiveram problemas, sim. Existe o risco e não é só para a safra verão. Muitas empresas conseguiram antecipar suas compras. Mas estou preocupado com o final do ano e começo do ano que vem e com a safra do ano que vem, estou preocupado sobre como a China vai reagir. Hoje existe um risco que pode afetar a entrega de produtos ainda nesta safra, mais ainda os produtos programados para novembro e dezembro.”

A CropLife Brasil, entidade que representa empresas de insumos, teme que a logística piore e cause prejuízos à agricultura às vésperas do início de uma nova safra no Brasil, disse o presidente Christian Lohbauer. “A paralisação de um, dois ou três portos, entre os quais os mais importantes portos chineses, mesmo que parcialmente, tem um efeito preocupante, ainda mais num ambiente onde já é difícil retomar o comércio internacional. Se a situação já é sensível, ela deve piorar porque evidentemente uma série de pedidos e insumos importantes que vem daquele país para a agricultura brasileira podem sofrer algum tipo de impacto. Então vamos pensar que isso seja um momento de curto prazo onde eles estejam fazendo um ajuste para que isso não permaneça assim, senão a gente pode ter risco de abastecimento e insumos necessários para a agricultura brasileira.”

Segundo o analista de mercado de fertilizantes da consultoria StoneX, Marcelo Mello, os efeitos indiretos dos problemas logísticos também tendem a se agravar. “A China, além de ser grande exportador de fosfatados e nitrogenados, é o maior importador de commodities em diversos segmentos, incluindo petróleo, commodities, minérios. A retenção de navios esperando causa um efeito dominó em todos esses mercados, reduzindo a disponibilidade de contêineres e navios , o que evidentemente aumentaria o custo de frete marítimo, impactando exportações e importações brasileiras, mesmo de mercados que estejam fora da rota Brasil – China. A situação já vem ocorrendo, está um caos no mercado de fretes internacionais, mas a situação se intensificou ainda mais mesmo que temporariamente”

Na Agrinvest Commodities, o analista de fertilizantes Jeferson Souza acredita que as entregas de adubos no Brasil podem atrasar. “Além de aumento expressivo de preço do fertilizante de janeiro até agora, pelo que temos até o momento, existe sim possibilidade de atraso nas entregas, mas pelo momento não é nada tão concretizado. É importante acompanharmos.” 


Fonte: Kellen Severo, Jovem Pan

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